Memórias de Uma Peça Ruim

1:47 PM mari 0 Comments



Embaralhada com as lembranças que me sufocavam a cada vez que voltavam a minha mente, lembrei de quando me cortejava e me dizia palavras bonitas, mas sem verdade eram apenas palavras vazias. Preferi deixar de ouvir a massa para ouvir o coração, assim fui me perdendo de mim e acabei me afogando em um mar de mentiras repetidas.

Sentia que beijava meu rosto como se fosse a coisa mais gostosa, me abraçava pra não deixar escapar nada, me cheirava como se fosse flor rara. Jurava haver verdade nos gestos, que havia sentimento. Lembro que deixava comigo uma lembrança por dia, um brilho que vinha dos olhos até o sorriso. Quem via não imaginava que aquilo tudo era teatro, mas no final da peça, antes do fechar das cortinas, descobri que era o verdadeiro vilão.

Tentei a todo custo negar a verdade que foi jogada no meu rosto. Não acreditava que alguém poderia ter tanto talento para atuar por meses, como foi. Preferi me deixar enganar pelas aparências, pelo sotaque, pelo modo de andar e de se expressar, mas se por um segundo tivesse aberto os olhos, tudo aquilo não teria sido levado pelo tempo que foi.

Apesar de ter sido a mocinha inocente que caiu no conto do vigário, aplaudi de pé toda aquela representação. Ninguém nunca vai conseguir superar tal emoção que aquele fechar de cortina com ar de adeus me causou. 

Antes de deixar as memórias se dissiparem como uma chuva sendo levada embora pelo vento, joguei um beijo de despedida no ar. Mesmo depois de tudo, ainda consigo sentir pena de não ter tido paciência pra aguardar o segundo ato daquela bobagem enganosa. Talvez outro dia, quem sabe.

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